Polígono logo

Polígono

Inscrever-se
Arquivo
Maio 20, 2025

Diversidade à brasileira

Polígono Header

Essa newsletter conta com o apoio
do Instituto Serrapilheira

Bom dia! Aqui é a Meghie Rodrigues e hoje trago um lembrete sobre o poder das Big Techs de sair praticamente ilesas depois de cometer atos suspeitos (pelos quais eu ou você seríamos provavelmente presos). Hoje a news também traz o pacote de bondades que o governo brasileiro está negociando com essas mesmas Big Techs — e Julia Dias reflete sobre o impacto de uma política dessas na nota do convidado. Como nem tudo é só notícia ruim, destacamos também um estudo genético brasileiro importantíssimo publicado na Science há poucos dias. Bora?

O Polígono precisa de você. Contribua com apenas R$5/mês e nos ajude a ter uma newsletter sustentável que apoia a ciência.

É rápido e barato apoiar

Pirataria pouca é bobagem

Você deve ter ouvido falar do subterfúgio — digamos, pouco ortodoxo — de que a Meta lançou mão para treinar seus modelos de IA. Pirataria pura. Tem gente lá dentro que disse que a empresa usou livros do LibGen para alimentar suas IAs. Com a anuência de Mark Zuckerberg. Não é um negócio de agora, mas vale muito ficar de olho no andamento do processo. 

Só fica no “toma lá”

Por falar em Big Techs em sua missão incansável de lucrar o máximo devolvendo o mínimo, o governo brasileiro, na pessoa do ministro da Economia, Fernando Haddad, está negociando um “pacote de bondades” com essas empresas. A ideia é construir data centers dessas empresas por aqui na base de isenção de impostos e energia quase que à vontade. As contrapartidas parecem altamente questionáveis. Cobrados pelo Idec sobre a Política Nacional de Data Centers, os ministérios da Economia e do Desenvolvimento negaram acesso ao plano apresentado às empresas. Vai vendo. 

Genética megadiversa

A gente já suspeitava, mas um estudo da USP, que integra o projeto “DNA do Brasil”, prova: o Brasil é o país mais miscigenado do mundo. E a colonização deixou marcas profundas na nossa genética — 70% da herança genética masculina vem de povos europeus e 77% da herança genética feminina vem de povos africanos e indígenas. Publicado na Science, o estudo sequenciou o DNA de mais de 2.700 brasileiros e encontrou 8 milhões de mutações inéditas no nosso DNA. Esse estudo (importantíssimo) promete muitas implicações para pesquisas em saúde, com possível impacto em políticas públicas. Um baita avanço.

Clique no banner para participar! O evento acontece no Discord

Calendário científico

🔑 Exclusivo para assinantes.
Assine essa newsletter por apenas R$5.



Você viu? 👁

  • Lembrete: existem limites para ter, mas não para ser.

  • Já ouviu falar de Nêgo Bispo?

  • Sementes de chia sob um microscópio são uma coisa linda.

  • A ciência está descobrindo que para tratar a obesidade, só dieta não basta.

  • Neil deGrasse Tyson: corte na ciência dos EUA pode ser considerado um ato de guerra.

  • Cientistas chineses tatuaram um tardígrado!

  • Um passarinho com TOC, já viu? 😂

  • O que é esclerose múltipla, como se trata, e como se previne?

  • E esses chimpanzés selvagens prestando primeiros-socorros?

  • Um bebê dos EUA é o primeiro a ser curado com o uso de edição genética. Sensacional!

  • Como é fazer ciência no ponto mais alto do Brasil? 


NOTA DO CONVIDADO

Data centers: novos devoradores de mundos?

Por Julia Catão Dias, mestranda em Direitos Humanos pela USP e coordenadora do Programa de Consumo Responsável e Sustentável do IDEC

Vivemos um momento decisivo para o planeta, enfrentando o que a ONU classifica como uma tríplice crise planetária: as mudanças climáticas, a poluição generalizada e a perda acelerada da biodiversidade. Esse cenário não ameaça apenas as futuras gerações - suas consequências já são devastadoras para todas as formas de vida na Terra.

Alguns cientistas têm chamado esse momento de "Antropoceno", a era geológica em que a ação humana teria alterado de forma profunda a estrutura e o funcionamento do planeta. No entanto, esse conceito está longe de ser unânime e levanta críticas importantes. Aqui, destacamos duas delas.

A primeira é que ele pode reforçar a ideia de que toda a humanidade é igualmente responsável pela destruição ambiental, apagando desigualdades históricas. A segunda é que, ao atribuir essa transformação à “humanidade” de forma genérica, o Antropoceno pode naturalizar a destruição ambiental - como se fosse um destino inevitável, uma consequência “do que os humanos são”, e não de escolhas políticas e econômicas específicas.

Por isso, mais interessante pode ser pensar na chave do Plantationceno, como propõem autores como Donna Haraway, Anna Tsing e Malcom Ferdinand. Para eles, as plantations coloniais, fundadas na expropriação de terras, na escravização e racialização de povos, criaram um sistema de simplificação radical das ecologias, onde o trabalho, humano e não humano, é forçado a operar sob uma lógica de extração e destruição.

Essa lógica não é coisa do passado: ela persiste hoje na forma do agronegócio, da mineração, da exploração de combustíveis fósseis e, mais recentemente, no desenvolvimento da inteligência artificial.

Para existir, a internet (e os sistemas de inteligência artificial) precisam dos data centers: estruturas físicas onde ficam as máquinas e os equipamentos que fazem a coisa acontecer, como os servidores e as unidades de armazenamento de dados.

E, para funcionar, esses centros de dados demandam uma quantidade enorme de água para resfriar os computadores, de energia elétrica para manter os servidores funcionando, de minerais para os seus equipamentos, além de um território para serem instalados. 

Além disso, tanto os dados que alimentam esses sistemas quanto os algoritmos que deles derivam tendem a reproduzir desigualdades históricas, incluindo o racismo algorítmico, a vigilância seletiva e a exclusão de populações já marginalizadas.

No Brasil, o debate sobre a expansão dos data centers e o desenvolvimento da IA está sendo feito às pressas, sem envolver de maneira adequada a sociedade civil, os órgãos ambientais, nem considerar os impactos sociais e climáticos com a devida seriedade.

O ministro Fernando Haddad chegou a apresentar a proposta da Política Nacional de Data Centers às big techs em um "road show” nos Estados Unidos, sem garantir a participação de organizações da sociedade civil na construção da mesma. O Idec, por exemplo, pediu acesso a essa política, e teve o seu pedido de acesso negado.

Diante desse cenário, é urgente questionar a quem servem os data centers e a inteligência artificial que os sustenta. Enquanto governos aceleram políticas de incentivo às big techs sem transparência nem participação popular, comunidades têm seus recursos hídricos, seus territórios e seus direitos sacrificados em nome de um "progresso" que aprofunda desigualdades históricas.

É hora de dizer que queremos o fim das plantações de hoje - neste caso, servidores que expropriam territórios e algoritmos que colhem dados como monoculturas, mantendo a lógica colonial do lucro acima da vida.

Resistências no Uruguai e no Chile já demonstram que é possível confrontar esse modelo. Mas, como lembra Malcom Ferdinand, para isso é preciso que as lutas ambientais se unam às anticoloniais, reconhecendo que não haverá justiça socioambiental e climática sem enfrentar o racismo em suas múltiplas formas – nem sem desafiar as estruturas de poder que moldaram o mundo desde os tempos coloniais e que continuam moldando o agora.

Gosta do Polígono? Assine por apenas R$5/mês. Participe do NúcleoHub, nossa comunidade no Discord. Quer anunciar com a gente? Acesse nosso Mídia Kit.

➜ Altere seu cadastro neste link

➜ Gerencie sua assinatura premium neste link

Cancele sua inscrição



Política de privacidade

Não perca o que vem a seguir. Inscreva-se em Polígono: