Niéde viva!

do Instituto Serrapilheira
Bom dia, aqui é a Chloé Pinheiro. Não tinha como a news ser sobre outro assunto que não Niéde Guidon. A maior arqueóloga brasileira (e uma das maiores do mundo) morreu deixando um legado imenso, que foi devidamente celebrado nas redes. Na nota do convidado, a jornalista Kelly Spinelli escreve um texto MUITO BOM sobre a Niéde. Mas apenas nossos assinantes premium vão ler na íntegra, tá? Custa só R$5!
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Niéde Guidon
A arqueóloga brasileira faleceu aos 94 anos, em São Raimundo Nonato, no Piauí, onde vivia há décadas. Ela é uma das maiores pesquisadoras brasileiras, e uma baita mulher, dona de frases marcantes e cheia de ideais. Seu trabalho no Parque Nacional da Serra da Capivara, que ajudou a criar, questionou a teoria da ocupação humana nas Américas, o que gerou algumas das controvérsias mais instigantes da ciência.
Legados
Ela também foi uma referência no fazer ciência em parceria com a comunidade, o que hoje é chamado de ciência cidadã. Sem contar o legado para as mulheres, porque ela meteu as caras numa época em que as coisas eram (ainda mais) difíceis pra nós e lutou contra o machismo. Como disse o Ministério da Ciência e Tecnologia, ela deixou uma marca indelével na história.
Para saber mais
A gente fala um pouco sobre a Niéde no episódio do Ciência Suja sobre colonialismo na arqueologia. E o Bernardo Esteves tem um livro ótimo sobre a ocupação humana nas Américas pra quem quiser se aprofundar no assunto. Recomendo muito! Ah, e a Kelly Spinelli, que escreve o texto abaixo, lançou no ano passado o podcast Os Caminhos de Niéde Guidon, com histórias incríveis sobre ela.
O desmonte continua
A coisa segue brava nos Estados Unidos. Cientistas se manifestam contra um corte de mais de U$12 bilhões no National Institutes of Health, principal entidade de pesquisa em saúde no país. E o New York Times fez uma matéria muito boa pra visualizar como o NIH já foi afetado. Com a sangria e a perseguição a estudantes estrangeiros, já se fala em fuga de cérebros… Parece que o mundo deu voltas e esse não é só um problema do Sul Global, não é mesmo?

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NOTA DO CONVIDADO
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Niéde Guidon e os desafios de fazer ciência no Brasil
Por Kelly Cristina Spinelli, jornalista e roteirista, criadora do podcast Os Caminhos de Niéde Guidon, produzido com apoio do Instituto Serrapilheira).
Niéde Guidon dizia que, quando morresse, queria ser deixada no Parque Nacional Serra da Capivara, “para as onças comerem”. Não queria padre, nem velório, nem choro, nem vela.
Simbolicamente, parecia fazer sentido. Afinal, a imagem de Niéde se confundia com a do parque. Ela liderou, em meio a aventuras que dariam um filme (e que me inspiraram a fazer o podcast Os Caminhos de Niéde Guidon), a equipe que mapeou, na Serra da Capivara, no Piauí, um dos maiores conjuntos de pinturas rupestres do mundo, a partir dos anos 1970.
Escavando debaixo das pinturas, encontrou vestígios arqueológicos que acenderam debates – afiados e ainda não resolvidos – sobre a ocupação das Américas pelo homo sapiens.
Com as descobertas, conseguiu que fosse demarcado um grande parque nacional que protege a caatinga e que revolucionou a vida dos homo sapiens do presente – principalmente das mulheres da região, que conquistaram autonomia e independência financeira.
Niéde teve de enfrentar garimpeiros e caçadores, mas também e, principalmente, a longa batalha causada pela falta de recursos de financiamento, pela falta de valor dado ao nosso patrimônio histórico, cultural e natural, constantemente ameaçado de destruição. Ocupou espaços que não precisaria ocupar, se a ciência brasileira tivesse o valor e o reconhecimento devidos.
Quando ela faleceu, aos 92 anos, na semana passada, teve sim velório, contrariando a vontade dela. Afinal, ser deixada para as onças seria ilegal. Mas Niéde foi enterrada na casa onde morou por décadas, no mesmo terreno da Fundação Museu do Homem Americano, que ela comandou até se aposentar, no dia do aniversário do Parque Nacional Serra da Capivara.
Niéde costumava lembrar, nas raras aparições públicas dos últimos anos, que não fez nada sozinha, mas sim com a comunidade. Mas preocupada com o futuro, pra quem a visitava em casa no últimos anos, sempre dizia: “Eu fiz a minha parte. Agora é com vocês”.
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